domingo, dezembro 12, 2010

"Fernando,

Não tenho feito muitos amigos (salvo uma enfermeira da maternidade que gostou de mim e depois de quase oito meses de Paulinho nascido vem me visitar na folga — hoje toma chá comigo), e não tenho influenciado nenhuma pessoa. Tomo menos milk-shake e levo uma vida diária vazia e agitada. Passo o tempo todo pensando — não raciocinando, não meditando — mas pensando, pensando sem parar. E aprendendo, não sei o que, mas aprendendo. E com a alma mais sossegada (não estou totalmente certa). Sempre quis “jogar alto”, mas parece que estou aprendendo que o jogo alto está numa vida diária pequena, em que uma pessoa se arrisca muito mais profundamente, com ameaças maiores. Com tudo isso, parece que estou perdendo um sentimento de grandeza que não veio nunca de livros nem de influência de pessoas, uma coisa muito minha e que desde pequena deu a tudo, aos meus olhos, uma verdade que não vejo mais com tanta frequência. Disso tudo, restam nervos muito sensíveis e uma predisposição séria para ficar calada. Mas aceito tanto agora. Nem sempre pacificamente, mas a atitude é de aceitar."

Clarice Lispector, "Correspondências"

quarta-feira, outubro 27, 2010

Pequena lista [não ordenável] das maiores alegrias

Cheiro de café com beijo de bom dia. Casa arrumada, cama fofa e lençóis limpos. Privacidade e liberdade de ir e vir. Acordar com passarinho cantando. Ter alguém pra chamar de amigo. Receber carta de avô. Família reunida. Banho gelado. Música, um bom livro, um bom filme. Noite bem dormida. Boa saúde. Sol ameno, brisa fresca e amor perto. Comer fruta do pé. As flores e os animais. Afeto de cãozinho. Serviço cumprido. Consciência tranquila. Céu salpicado de estrelas. Lua cheia e balé de vaga-lumes. Cheiro de chuva. Arco-íris. Risada de criança. Bolo quente. Pudim de leite. Olhares-sorriso. Caminho cruzado por coração bom. Espaço para palavras. Espaço para o silêncio. Nuvens apressadas. Nuvens distraídas... Ar de montanha. Fogueira e dança. Matar saudade.

quarta-feira, julho 14, 2010

Um cansaço latente: de longe, desejar o eterno e, de perto, abraçar o incerto. E por que não ser fluido e livre como as águas de um rio caudaloso e límpido? Quero ser uma ausência de esperas. Uma ausência de amarras. Pulsar no compasso da vida, eterna e finita, suave e implacável, tenra e dura, e inquestionavelmente bela...

segunda-feira, julho 12, 2010

sábado, abril 17, 2010

Saídas... Sem bandeiras

"No fim da estrada e da poeira
Um rio com seus frutos me alimentar"
(Fernando Brant/ Milton Nascimento)

Iniciação

Romper, num instante,
Com a noção [ normal e insana]
De linearidade dos processos vitais.
Alcançar o que os olhos metafísicos
Não enxergam sem treino.
Penetrar a essência de todas as coisas
Ao se deixar absorver por elas.
Ousar. Transparecer. Ouvir.
Permitir o fluxo natural
De palavras e silêncios.
Aceitar a solidão.
Doar-se por inteiro:
Sem deixar de ser
Um só.
Permanecer sem, jamais,
Pertencer...

quarta-feira, abril 14, 2010

... :]

Ciranda
(Márcio Faraco)

"Se tento correr o tempo pára
Se páro pra ver o mundo anda
Ele vem bater na minha cara
A vida é sempre essa ciranda

Se a noite me traz uma tristeza
O dia vem cheio de alegria
O que falo agora com certeza
Há pouco não sei se eu diria

Eu quero gritar ninguém me escuta
Está tudo preso na garganta
Às vezes me cansa tanta luta
E é pra não chorar que a gente canta

Eu vi uma luz no fim do túnel
Enchi de esperança o coração
A luz que lá estava foi chegando
Era um trem carregado de ilusão

Andando só na corda bamba
Não temo o futuro da nação
A gente que sempre dançou samba
Enfrenta qualquer divisão"

terça-feira, abril 13, 2010

Pés descalços!
Há uma estrada adiante.
Corações ciganos, nômades, sedentos de vida
Quando se encontram
Se entrelaçam
Tecendo malhas de Amor, de Paixão e Amizade.
Movidos pelos elementos fundamentais,
Não são mais... Nem menos:
São parte.
Têm brilho nos olhos, estes andarilhos.
Fazem chover. Abrem Caminhos. Acendem sorrisos.
Cantam e dançam para a Lua.
Têm brasas nos pés, estes andarilhos...


(escrito em meados de 2004...)
Agradeço aos gênios musicais e aos azuis e ventos outonais por inflarem meu espírito com a Alegria Indelével! Amém!

quinta-feira, março 11, 2010

Salve...

Gradações em verde; distintos caminhos da luz. O vaguejar tranquilo das nuvens no azul-quase-outonal. A vermelhidão extravagante do Tiê. Voos rasantes porém delicados de uma generosa borboleta sertaneja sobre o folhiço resignado. Orquídeas selvagens arroxeadas e o ar antigo, úmido, denso e sábio de uma floresta que ganhou a chance de rebrotar e envelhecer. À frente as águas marinhas, verde-espelhadas, salinas, indecisas e certeiras, ternas subordinadas do sábio e imponente Grande Vento. Quanta vida cabe numa tarde. Gostaria de me misturar e dissolver nesta orquestra sagrada. Salve salve, natureza. Me envolva, direcione, acaricie, proteja, em seus braços me acolha, e me tome... Pois não pertenço mais a lugar algum.

segunda-feira, dezembro 14, 2009

Marajó

Leite de búfala,

Suco de taperebá,

Pão caseiro,

Galo cantando,

Maré subindo,

Banho gelado,

Estrada de terra,

Bicicleta velha,

Sorrisos caminhantes,

Sol, sombra, mar,

Rio, maré baixando,

Entardecer azul e dourado,

Vento soprando,

Cabelos bagunçados,

Meninos e pipas,

Estrelas,

Grilos,

Sapos,

Mocinhas e mocinhos do Cruzeirinho

Do Carimbó,

Tambores e pés sintonizados

Sob a luz da Lua,

Sob a luz de Deus,

Entoando Terra afora

A magia de Marajó!

sábado, dezembro 12, 2009

sexta-feira, dezembro 11, 2009

O verde-mar, o azul celeste, a tarde-luz. Um ser alado cumprimenta a esperança de óculos.

quinta-feira, dezembro 10, 2009

Da Saudade IV...

Sinto falta do seu sorriso e dos nossos passeios. Sinto falta do pôr-do-sol ao seu lado e do seu silêncio acolhedor. Sinto falta dos nossos pés descalços, de como corríamos pela relva e do seu jeito peculiar de me presentear com flores: sem arrancá-las! Sinto falta dos nossos banhos de rio, de contar estrelas cadentes, de dançar ao redor do fogo, de correr na chuva e depois tomar chá. Sinto falta da sua alegria com a proximidade do estio e da nossa cumplicidade com o celibatário e sábio e livre Vento. Sinto falta de você.

sábado, outubro 10, 2009

Nesta hora colorida
Pelo tom dourado-místico mais arrebatador
Encontro o poder da transmutação energética:

Sou nova.


terça-feira, outubro 06, 2009

Eu já voei.
Como posso agora
Me bastar?
Assim, sufocada
Como as árvores
Dessas ruas
Dessa cidade
À qual não pertencem
À qual não pertenço?
Como posso agora
Me bastar?
Longe dos meus campos
E de meus amigos
E do seu olhar?
Como faço, amor meu,
P´ra sua ausência suportar?
Fugiram de mim...
As cores, os risos, as revoadas
Sobraram:
Um bocado de cinzas
E um tantinho de brasas
P´ra que as quero?

Da Saudade III

Dos campos floridos
Eu tenho saudade
De amores vividos, eternos e findos
(Pensava que sim, assim, sem maldade!)
Aos olhares e voos eu brindo
E [nesta noite] me afogo
Em vontade
P´ronde não corro? Meus pés têm brasas... Parados, me queimam! Mas estou cansada, e é de correr sozinha. Que grande contradição eu sou! Quero ter tudo. Quero carregar o Amor comigo. Quero trilhar ao lado d´outro par de pés em brasas. E este par de pés é o teu.

segunda-feira, agosto 31, 2009

Se

E se eu pudesse
Estender meus braços
Tal qual fossem raízes
Da árvore mais alta?
Poderia abraçar
O mundo?
Poderia alcançar
Você?
Me parece que não há tanto mais a dizer neste mundo chacoalhado, revirado, bagunçado, invertido, colorido, tão sem cor, diversificado, rico, pobre, podre, novo, claro, escuro, livre, livre?, globalizado, heterogêneo, visual, cego, fala-se tanto e nada se fala, fala-se tanto e nada se ouve, progresso, atraso, atraso, progresso, progressistas atrasados, atrasados professores, filósofos disfarçados, enlouquecidos doutores, bandidos pirados, profanos profetas, sagrados amores, amores?, pastores safados, armados benfeitores, múltiplas vozes ecoam e viram vento e, simplesmente, ninguém se ouve...

Da Saudade II

Dos caminhos trilhados em sonho
Das gradações em verde nas colinas
Numa tarde clara
Das fileiras branco-etéreas de nuvenzinhas
Transitando distraídas pelo azul:
Tenho saudade.
Dos cavalos e homens quase-livres
Flutuando sobre as planícies
De todas as pequeninas flores campestres
Dessas coisas que não vivi!
- Não vivi?
Sinto saudade.
Não preciso buscá-los
Eles colonizaram meu ser
Sem pedir licença.

segunda-feira, junho 01, 2009

Da Saudade

Tenho saudade
Dos meus pés e mãos na terra
[para a terra]
Saudade das estradas coloridas,
Das 'minhas' flores
E das canções dedicadas
Às manhãs, à tardinha
E à Grande Noite
Saudade da dança e do fogo
Das montanhas, estrelas, ventos
Cavalos, canoas, mergulhos,
Colheitas, sorrisos,
Abraços, tambores!
Tenho saudade
De só ser;
E de nunca mais
Ser só

segunda-feira, maio 25, 2009

Era uma espécie de sufoco. Nó sem ponto, entende? Tantos apelos numa competição acirrada - não tinham o mínimo de educação para gritar um por vez. Queria desatar o nó, mas precisava de um ouvido com poderes mágicos. Queria mesmo era subir. Até o cume, sabe? Ainda que do primeiro avistasse ao longe um segundo cume, mais alto, mais intimidador. "Ao menos seria um por vez..." - pensava. Queria mesmo era subir silenciosamente. Queria um guia. Queria o fim do tempo. O fim da pressa. O fim da ausência. O fim dos cumes solitários. O fim da saudade. Queria ter a alma transbordante em alegria atemporal. Entre verdes e azuis, e nuvens, e flores, e ventos, e luzes, e todas as cores.

terça-feira, janeiro 06, 2009

neste mundo,
quanto maior a lucidez
tanto maior a solidão
mas há uma alegria inata,
perene
que só um coração raro pode conhecer
não está à venda
não está disponível
senão para quem [verdadeiramente] quer ver
existe luz, existe cor,
e, que felicidade!
existem outros raros.

quinta-feira, dezembro 11, 2008

segunda-feira, dezembro 08, 2008

...

Änimã

(...)

Viajar nessa procura toda

De me lapidar

Neste momento agora

De me recriar

De me gratificar

De busto, alma, eu sei

Casa aberta

Onde mora o mestre,

O mago da luz

Onde se encontra o templo

Que inventa a cor

Animará o amor

Onde se esquece a paz (...)

(Milton Nascimento)

reflexos naturais

Absorver o que de bom há
Extirpar da alma o que promove atraso e estagnação
Amor? O degrau mais alto
Da evolução

Ao mundo externo:
- Paciência
- Indulgência
- Compaixão

O mundo muda!
De dentro...
Para fora

E salta dos olhos
Em brilhantes raios...
Num mergulho colorido,
Corajoso,
Fraterno,
Sereno.

Luz...
Serei.
...Luz:
Serás.

quarta-feira, dezembro 03, 2008

Viu a Lua e Vênus logo ao lado. Queria estar lá em cima. Ou lá embaixo, não importa: queria estar n´outro lugar. O azul, aquele mesmo azul, agora lhe doía. Não podia acompanhá-lo e os motivos eram nobres. ["Mas o que pode ser mais nobre que o azul... Que o meu azul?"] Boba, boba. Se estilhaça aos poucos. A cada dia de sol. Conforme a intensidade das cores... Quanto maior a força do vento.

sábado, outubro 11, 2008

Pequenas Grandes Coisas

Era uma vez uma borboleta
Que vivia apressada!
Pilhava o néctar de belas flores
E nem suas mais belas cores notava:
Queria ser conhecida
Como aquela que mais trabalhava
Até que um dia foi interrompida
Por outra borboleta (magrinha),
Que questionava:
Quanto néctar! Vai viajar?
- Não! Queira dar licença...
- Família grande?
- Quero ser reconhecida
Como quem melhor sabe trabalhar.
Acumular tanta comida
Que todos venham me reverenciar!
- Mas nessa quantidade toda...
Em breve tudo vai é se estragar.
[A borboleta silenciou. A magrelinha continuou, sorridente:]
- Não quer ser minha amiga?
Vamos pegar esse néctar,
Distribuir entre nossas semelhantes
E aproveitar o resto do dia para descansar!
Venha ver quanta beleza há
No pôr-do-sol, em frente ao mar...!

terça-feira, outubro 07, 2008

Limpando o disco, (ou Virando a página,) [ou ainda: fatigada canção,]

Eu quis...:

- Aprender a cantar
(Pra te tocar no fundo d´alma)
- Plantar um jardim
- Te fazer sorrir
- Segurar sua mão
- Ser sua amiga, amor, paixão
- Me embriagar
(Com você, por você, de você)
- Te levar ao começo do mundo e...

... Olhar estrelas,
... Correr no campo,
... Subir montanha,
... Colher amoras,
... Nadar no rio,
... Ler tantos livros!
... Parar o Tempo,
... Ouvir o Vento,
... Pisar na Lua,
... Te amar no chão;

Você me lembra:
Cheiro de chuva, vela queimando, café fresco, capim-limão

Fiquei boba!
Quis dar-me inteira
Ser toda sua
E me disse não

Mas... Tem nada não:
Tem muita gente no mundo
Buscando um bom coração

Até eu
Já me cansei desta
[quase irritante]
[fatigada, fatigada...]

Canção.

quarta-feira, outubro 01, 2008

De[veras] Humana...

Andava. Não conseguia encontrar um rumo nas idéias, então vez por outra saía a caminhar em busca de algum que lhe coubesse. E a vida não é feita de momentos? (Um a um...) Alguma porta lhe chamaria a atenção? Estaria aberta? Incerto. Às vezes se aborrecia com o tal Incerto, muito embora em geral nutrisse por ele considerável simpatia. O mesmo para o Silêncio. Os calçados que envolviam seus pés no pisotear sobre o asfalto a abafavam. Seus pés eram como o barro ali debaixo: impedido, asfixiado. Seu corpo inteiro era como o barro... Impedido; asfixiado. Ergueu os olhos ao céu e perguntou (para quem?) o sentido de tudo aquilo. Por que questionava? Era diferente? Igual? Parte? Desejava flutuar. Eis que uma porta se fez escancarada à sua direita; entrou. Veio um belo rapaz em sua direção: "em que posso servi-la, senhorita?". Sentou-se e disse: "Boa noite... Uma cerveja, por favor."

quarta-feira, setembro 03, 2008

Antes de tudo: eu sou eu ou sou minha sombra? Às vezes penso que não sou mas, se estou certa, como posso ser? Ademais, essa que vos escreve pode ser minha sombra, muito embora sombra ou eu, de qualquer jeito não sou. Poderei aspirar ser sombra ou ser eu, quando descobrir quem diabos eu sou? Ah, sejamos práticos. No momento, sombra ou eu, eu ou sombra, sou alguém se perguntando como é que se faz para não querer perguntar. Ah, sim: por que é que eu tenho que ser não sendo? O fato é que eu e minha sombra, ou eu-eu e eu-sombra, caminhamos desgovernadas para lados opostos; eu descaminhando e ela caminhando ou vice-versa, dependendo de quem eu for. Sendo eu-eu ou eu-ela, estou sempre descaminhando. Estou? Às vezes descaminho parada. E a gente se encontra é no descaminho ou no caminho, mesmo? Levando-se em conta meu estado de não-ser, creio não estar perdida, tampouco achada. Mas de repente a lua desponta lá no horizonte azul celeste em mutação para a cor ausente ou a não-cor e me rouba um sorriso... Apenas um. Descaminho e Caminho inesperadamente ganham uma translucidez cada vez maior até se dissolverem quase por inteiro (inteiro?), convergindo para um ponto aparentemente único chamado praça. Já parou pra pensar na sua visão da praça? Sabe de qual praça estou falando. Eu e sombra, e agora já não importa a semântica, sentam-se frente a frente e brindam com o mesmo copo. Nada dizem. (Quem sabe até faça sol amanhã...)

sexta-feira, março 14, 2008

Sentada, balançando os pés sobre a água do rio, perdeu a noção de tempo e espaço. Contemplava o céu avermelhado, que anunciava a hora avançada. Pensava nos sonhos deixados para trás. Sabia que naquele momento eram não mais que pó, mas então sorria porque o pó era belo... Entendeu o motivo que a levava a amar tanto as estradas de terra. "São feitas de sonhos"- disse. "Sonhos que viram pó...". Apoiou-se nos galhos da Grande Árvore e atirou-se lá de cima, caindo na água. Precisava saber se ainda estava viva. Ao sentir a água fria lhe arrepiando braços e pernas, encontrou a resposta de que precisava. A idade avançada não podia ser usada como desculpa para cobrir o pó com asfalto. Ainda podia sonhar, crescer, amar. No caminho para casa, já cintilavam algumas estrelas no firmamento. Eram um sinal. "A vida é cheia deles", balbuciou. Avançou porta adentro e fez as malas.

quinta-feira, dezembro 13, 2007

Um pedaço de terra

Sagrado caminho de barro

Uma semente sincera

E a luz das forças essenciais

Tudo de que preciso:

Nada mais.
O que está faltando?
O inconformismo me move
Novo tempo, Era da tecnologia
Que foi feito do quintal onde a gente ria?

Eu quero o vento, meu verbo é sentir
E meu sentido é o tato.
Ah, é controvérsia demais pra um só relato!

Gosto de companhia e gosto de andar sozinha
Que foi feito da poesia que era minha?

sábado, setembro 22, 2007


Flutuava sobre a linha d´água. E não havia tempo. Apenas claridade. Inspirava lenta e profundamente, e um silêncio terno e pleno invadia seu corpo. Era maior. Era igual. Era parte. Era paz.



quinta-feira, julho 26, 2007



Gostava de despertar assim, antes do sol. Tomava um banho gelado e uma xícara de café com pão e queijo. Colocava música e regava as flores. A casa entrava em festa com a expectativa de raiar o dia. "É que cada dia é sagrado", não cansava de repetir. Amava especialmente o mês de maio, com suas ventanias e seus azuis. Gostava de correr e de nadar no rio, antes de ir para a escola - era professora, e disso se orgulhava. Costumava ver o sol se pôr do alto da amendoeira, e depois tomava chá com Dona Nina. Era sempre deste jeito. E era sempre muito feliz.




terça-feira, julho 24, 2007

Todo bom ser humano deve saber calar, deve gostar de calar. É que silenciar possibilita ouvir e, embora a melodia universal jamais se interrompa, ela nunca se repete, é sempre outra. E há quem corra o risco de atravessar uma existência inteira sem parar um instante para escutá-la!
Todo bom ser humano deve ter cautela ao empregar as palavras e ao entoá-las. Nunca, sempre, bom, mau, certo, errado. Quão restritivas podem as palavras ser... Mas um ser humano que se preze não deve ser restritivo. Percebe, quão carregadas de julgamentos são as palavras? Que quanto mais nos pronunciamos, mais nos complicamos? E, quanto menos calamos, mais controversos nos tornamos?
E foi de repente, assim!
Depois de alguma curva que nem lembro
A poesia fugiu de mim
E os pensamentos se tornaram vãos.

Pra que lado terão corrido minhas essências?
Como é que algo tão vazio como o silêncio é capaz de se espalhar feito poeira?
Ou será que o silêncio é farto e a poesia, pueril?

Que o vento carregue meu vazio!

Que ele se parta em pedaços sem fim.
Percorrer caminhos incertos
Abandonar as tradições e os pré-conceitos
Desacreditar em corações desertos
Ponderar que não somos perfeitos

Percebe, que todo início se parece com o fim?

Que as sensações nos extremos são semelhantes?

Que tudo o que existe se complementa?
Retirado daqui...

terça-feira, junho 05, 2007

E o tempo vira e não sei por quê. Rodamoinho de pensamentos. Lembranças incandescentes, das boas, das más, um viver atemporal: lágrimas que secaram e permanecem quentes. Pra que lado venta? Sopros do norte, rajadas do sul, um duelo de forças descomunais que gera uma resultante nula! Inércia em movimento, turbilhão que explode para todos os lados e para nenhum, e que se expande, e que se comprime, e que migra simultaneamente para lados opostos. O que foi feito, o que não foi, o que há de ser, o que não havia de ser e foi, o que não há de ser, o que não se pode controlar. E o silêncio, e o silêncio, e o silêncio ensurdecedor que golpeia por todos os lados.

quinta-feira, março 22, 2007

Minha alegria é como o universo. Há períodos de expansão e de retração. Há desordem. Mas há sempre a pulsação. Gosto de equiparar a periodicidade universal às batidas de um coração - não necessariamente humano. Como será que os demais seres vivos percebem o tempo (e como serão os seres vivos em outros sistemas planetários, em outros sistemas solares?)? Independente da percepção, que seja qual for a origem nunca será real, é possível que o universo pulse como um coração qualquer? Para onde caminhamos, se tudo termina e tudo recomeça? Será tudo uma grande brincadeira? Será que somos meros apêndices de um ser único, e sumimos e reaparecemos com o bater de seu coração? E será que sumimos? Será que existimos? Muitos dos modelos que criamos funcionam, obedecendo aos paradigmas que hoje aceitamos. Mas se um paradigma é sempre transposto, temos que ser mais humildes em relação aos nossos modelos, não temos?

sexta-feira, março 16, 2007

É que eu tenho saudade. É que não sei mentir, por mais que tente. É que não gosto de sapatos, nem de jóias, nem de tetos.

É que o céu é o meu teto. É que o sol é meu relógio. É que as estrelas são minha bússola. É que o vento me chama, depois muda, depois me chama. É que gosto da luz do fogo.

É que gosto de caminhar, de atravessar rios e subir montanhas. É que gosto de sertanejos com suas violas. É que gosto de forasteiros. É que desconfio da lei.

É que gosto de poesia.

É que não gosto de não viver. É que não gosto de não sonhar. É que não gosto de esquecer.

É que me confundo quando dizem que tudo está no lugar.
PARNA da Restinga de Jurubatiba
Macaé, RJ

quinta-feira, março 08, 2007

Fazenda
(Nelson Ângelo)

Água de beber

Bica no quintal
Sede de viver tudo

E o esquecer era tão normal
Que o tempo parava

E a meninada respirava o vento
Até vir a noite
E os velhos falavam
Coisas dessa vida


Eu era criança
Hoje é você
E no amanhã, nós
Água de beber
Bica no quintal
Sede de viver tudo

E o esquecer era tão normal
Que o tempo parava
Tinha sabiá, tinha laranjeira
Tinha manga-rosa
Tinha o sol da manhã

E na despedida
Tios na varanda
Jipe na estrada

E o coração lá...

terça-feira, fevereiro 20, 2007


O vento, o sol, a chuva
Os sons, os cheiros, as cores...

Pegadas que se perdem na poeira da estrada
Sorrisos, acenos, olhares que ficam para trás
Palavras que se perdem no ar.

Acertos e erros

O que passa?
O que fica?

O que será do tempo que se foi?

Que fazer do tempo que nos resta?

sexta-feira, fevereiro 16, 2007


- Quero saber o que há no caminho para se perceber.

- Deves lançar passos leves e silenciar a alma
para enfim observar momentos tão breves.

A terra absorve - sem pressa - os últimos resquícios da noite chuvosa
e durante a tarde as libélulas aproveitam alegremente a riqueza das poças efêmeras.
Sobre o que conversam?

Serenidade para ouvir as vozes naturais e as virtudes planetárias
Melodia universal em notas celestiais
e realidades relativas transpondo linhas imaginárias...

O caminhar manso conduzindo à re-ligação
entre teu próprio ser e a Vida em essência.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Vamos partir para terras distantes
Vamos deixar o passado para trás
Caminhar por estradas nunca vistas antes
Buscar somente trilhas que nos tragam paz

Vamos andar de pés descalços
Vamos manter o coração aberto
E diante dos futuros percalços
Lembremos que o amor é o caminho certo

Cada pedra no caminho, cada flor
Cada cheiro e cada cor:
Nada passará em branco

As raízes serão expandidas, porém internalizadas
Os pés estarão sempre cansados
E a consciência sempre tranqüila.

quarta-feira, novembro 15, 2006

sábado, setembro 30, 2006

Faltava-me coragem para contar-lhe meus sentimentos verdadeiros. Da vontade de ir embora, de deixar tudo para trás, de descalçar os pés e vestir roupas velhas para uma caminhada mais confortável e simples. Queria voar pelos campos, me perfumando de flores, nadar pelos rios, correr na chuva, sentar no topo da montanha mais alta para esperar a chegada da noite. Queria não ter a obrigação de me preocupar. Queria que deixasse tudo e me acompanhasse, sem pensar no "depois". Ora, se não é pensando neste diabo que nos acomodamos a uma vida que um dia juramos abominar, e ficamos aprisionados. Não queria viver aprisionada ao "depois" (que não chegará; depois é sempre depois), tampouco amarrada ao "ontem"! Meu tempo é hoje, gostaria de poder afirmar. E por que é que você me contraria? Por que quer me atar a esta suposta realidade que nos põe sempre a esperar? Até mesmo uma vida simples custa caro, sempre me diz. Pois então o que queremos deve ser bastante complicado. Você me diz para ser paciente, lutar, conquistar. E eu respondo que estarei morta muito antes de meu coração parar de bater.

quarta-feira, setembro 27, 2006

A Idade do Céu - Paulinho Moska

Não somos mais
Que uma gota de luz
Uma estrela que cai
Uma fagulha tão só
Na idade do céu
Não somos o que queríamos ser
Somos um breve pulsar
Em um silêncio antigo
Com a idade do céu
Calma
Tudo está em calma
Deixe que o beijo dure
Deixe que o tempo cure
Deixe que a alma
Tenha a mesma idade
Que a idade do céu
Não somos mais
Que um punhado de mar
Uma piada de Deus
Ou um capricho do sol
No jardim do céu
Não damos pé
Entre tanto tic tac
Entre tanto Big Bang
Somos um grão de sal
No mar do céu
Calma
Tudo está em calma
Deixe que o beijo dure
Deixe que o tempo cure
Deixe que a alma
Tenha a mesma idade
Que a idade do céu
A mesma idade
Que a idade do céu

terça-feira, agosto 22, 2006


Quero acordar com os primeiros raios de sol da manhã... Me espreguiçar e tomar banho de rio. Uma collher de mel, pão caseiro e café com leite, já basta. Quero que a terra espere por mim. Comerei de minha própria colheita. Brincarei com meus filhotes e meu amor. Meditaremos ao fim do dia e reverenciaremos a lua. Cantaremos para a noite e dançaremos em roda. Violões, tambores, pés no chão e vozes alegres. Amigos verdadeiros. Só teremos luz de velas e lampiões. E seremos incrivelmente felizes.

Parnaioca




Fê, obrigada!

Que vontade eu tenho de sair
Num carro de boi ir por aí
Estrada de terra
Que só me leva, só me leva
Nunca mais me traz
Que vontade de não mais voltar
Quantas coisas eu vou conhecer
Pés no chão e os olhos vão
Procurar, onde foi
Que eu me perdi
Num carro de boi ir por aí
Ir numa viagem que só traz
Barro, pedra, pó e nunca mais

Carro de Boi (Milton Nascimento)

domingo, junho 11, 2006

Paraíso perdido no Rio de Janeiro... Já estou com saudades.

domingo, maio 21, 2006

final de semana feliz!

APA da prainha - rj




parque nacional da tijuca - rj






Uma homenagem ao nosso Rio de Janeiro...

sexta-feira, maio 19, 2006

Vento ventania...



Vento, ventania, me leve para as bordas do céu
Pois vou puxar as barbas de Deus
Vento, ventania, me leve para onde nasce a chuva
Pra lá de onde o vento faz a curva

Me deixe cavalgar nos seus desatinos
Nas revoadas, redemoinhos
Vento, ventania, me leve sem destino

Quero juntar-me a você
E carregar os balões pro mar
Quero enrolar as pipas nos fios
Mandar meus beijos pelo ar
Vento, ventania
Me leve pra qualquer lugar
Me leve para qualquer canto do mundo
Ásia, Europa, América

Vento, ventania, me leve para as bordas do céu
MPois vou puxar as barbas de Deus
Vento, ventania me leve para os quatro cantos do mundo
Me leve pra qualquer lugar

Me deixe cavalgar nos seus desatinos
Nas revoadas, redemoinhos
Vento, ventania, me leve sem destino

Quero mover as pás dos moinhos
E abrandar o calor do sol
Quero emaranhar o cabelo da menina
Mandar meus beijos pelo ar
Vento, ventania, agora que estou solto na vida
Me leve pra qualquer lugar, me leve mas não me faça voltar.

(Biquini Cavadão)

quinta-feira, maio 18, 2006


É no momento mágico da transformação de energia potencial em cinética que devemos nos concentrar. De que serve a capacidade sem desenvolvimento?

terça-feira, maio 09, 2006

O silencioso país dos sem-nome



Gostaria de visitar o país dos sem-nome. O país livre de classificações e isento de modelos e análises. Livre de reconstruções históricas arbitrárias minuciosamente organizadas por curiosos seres pensantes. Neste país, todas as espécies vivas têm o mesmo valor: nenhuma é mais importante. Não há raridades, tampouco redundâncias! Não há um estatuto para muitos organizado por poucos; as leis são bem claras, e estão impressas na consciência de cada indivíduo. Lá não há necessidade de muito falatório ou de muitos questionamentos. A linguagem visual é muito valorizada e intensamente explorada. Todos se entendem. Todos se respeitam. Todos se completam. Em silêncio.

sexta-feira, abril 28, 2006

Descobri que sou grande porque minha ambição é pequena.

quarta-feira, abril 19, 2006

Gente do Interior (César de Mercês/Sérgio Magrão)

Foto: Adenor Gondim

Gosto de gente do interior
Do jeito que essa gente
Diz que sente amor
É amor pra sempre
E pra nunca mais
Pois não se esquece
O que não se desfaz.
Quem tem o sol das manhãs
E os pés descalços no chão.
Conhece a hora certa
Na luz da porta aberta
Tem sempre aberto o coração

I wish I could fly

Harpia harpyja
Foto: Araquém Alcântara*
Este é o gavião-real, pertencente à família Accipitridae. É a ave de rapina mais possante do mundo. Chega a ter quase 1,0 metro de altura, 2,0 metros de envergadura e pode pesar até 9,0 quilos. Caça principalmente aves e mamíferos de porte avantajado, como mutuns, araras, preguiças e até filhotes de veados e porcos-do-mato. Seu ninho é uma imensa plataforma de gravetos construída nas mais altas árvores da floresta. Põe dois ovos, mas apenas um dos filhotes sobrevive. Será que existe algum bicho de porte mais elegante?
*Vale muito a pena visitar: http://www.araquem.com.br/

segunda-feira, abril 10, 2006

Poço do Coração, em Carrancas (MG) - e não poderia haver nome melhor. Lá, onde as feridas cicatrizam e onde as tensões se dissipam. Onde a vida se renova e o peito é preenchido com moléculas de alegria, convicção e paz.

segunda-feira, abril 03, 2006

Para meus queridos Rafael, Bia e Renata.


Às vezes a vida nos dá uma rasteira. Dessas tão fortes que nos perguntamos se um dia conseguiremos levantar. Sabemos que sim... Mas é tão difícil agora. Tão doloroso.
Estamos habituados com as nossas coisas e com o nosso círculo de convivência. E há certas coisas sem as quais pensamos que não havemos de respirar.
- Como continuar? Certas coisas são insubstituíveis!...
Pois o tempo de hoje é de dar tempo ao Tempo... Evitando o desespero e procurando o abraço de quem está aqui e anseia por ajudar. Aprendendo a conviver com a saudade, esta que permanecerá. Procuremos nos distrair (sem nos abster de sentir). Deixemos o ar circular e cicatrizar aos poucos as nossas feridas. Derramemos as lágrimas inevitáveis, até que não o sejam mais... E não esqueçamos de um sábio conselho de avó... "Tudo passa"... O sol há de voltar, brilhando ainda mais forte. Vamos esperar...

quinta-feira, março 23, 2006


Encantos naturais... Posted by Picasa
A luz atravessa a vidraça da janela bem cedinho. Abro os olhos e contemplo a aurora. Dou atenção a todas as cores e a todos os movimentos das nuvens. Coloco meu velho vestidinho florido, tomo um livro sob o braço direito e transponho o limite da porta. - "Ainda está úmido cá fora..." - murmuro. Meus pés descalços vão marcando o chão e logo adqüirem a cor do barro. Meu rosto é suavemente iluminado pelos raios solares. E vou caminhando. Observo as montanhas, as flores molhadas, as folhas no chão, as borboletas, ouço a diversificada e confortante sinfonia das aves. Sinto que viverei mais um dia delicioso! Alcanço a fronteira do poço encantado no momento em que a terra começa a esquentar. As águas cantam e estão me chamando. Deixo o sol aquecendo meu vestido e mergulho. Mergulho no meu tempo. A água gelada me revigora profundamente! A luz, a mata, os pássaros, as colinas, todos formam um coral pacífico e conscientizador, espalhando lições de humildade, perseverança, força de vontade. Tenho vontade de viver. Nado mais um pouco, escuto um pouco o vento e me dirijo para casa. É tempo de trabalhar...

quarta-feira, março 22, 2006


Imperdivel. Posted by Picasa